A combinação cinema e literatura atinge uma insólita síntese
na produção israelense “Nota de rodapé”. O
filme não é uma adaptação de um livro. A relação entre as referidas mídias
ocorre devido à temática do filme, cujos protagonistas,
pai e filho de difícil relacionamento, são pesquisadores acadêmicos que lidam
com a palavra escrita. A obsessão com tal objeto de trabalho acaba se estendendo
para as suas vidas. E é aí que o diretor Joseph Cedar estabelece uma tensa narrativa
que se divide com naturalidade entre o humor amargo e o drama contido. Cedar
obtém um registro de tons kafkanianos – várias seqüências do filme se
desenvolvem em ambientes fechados, escuros e algo sufocantes. A prolixidade dos
diálogos em determinadas cenas contrasta de forma contundente com momentos em
que predomina um silêncio inquietante. Com precisão, são inseridas trucagens
visuais em que as palavras de livros se embaralham com a encenação naturalista.
Toda essa concepção estética embala uma engenhosa trama que critica com
sutileza e ironia a fogueira das vaidades da vida acadêmica, sem esquecer de
ressaltar em pequenas nuances o clima de paranóia e opressão que a sociedade
israelense vive na atualidade. As acertadas escolhas temáticas e formais de
Cedar acabam coroadas com a bela conclusão do filme, em que os dotes de
filólogo de um dos personagens principais ganham um uso desconcertante e
fundamental no sentido existencial de “Nota de
rodapé”.
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