sexta-feira, junho 28, 2013

Reality - A grande ilusão, de Matteo Garrone ***1/2


Se em “Gomorra” (2008) enveredava por um viés formal de estilo seco e realista, beirando o documental, em “Realiy – A grande ilusão” (2012) o diretor italiano Matteo Garrone apresenta uma estética mais abrangente, mas igualmente contundente. Ao abordar o fascínio popular pelo artificialismo e frivolidade dos reality shows, o cineasta utiliza um registro que tanto se vale de alguns preceitos típicos do neo-realismo quanto de uma caracterização exagerada e grotesca de comédias clássicas como “Feios, sujos e malvados” (1976). O resultado é uma obra que consegue se equilibrar de forma notável entre o drama de caráter quase fabular e a ironia amarga. A direção de fotografia consegue obter contrastes desconcertantes – nas cenas externas na região humilde onde vive o protagonista Luciano (Aniello Arena) por vezes os enquadramentos apresentam soluções visuais belíssimas, que valorizam com sensibilidade a beleza rústica do ambiente de prédios antigos, mas quando a trama se desenvolve nas locações mais “luxuosas” (festas de casamentos, estúdios televisivos) o estilo visual adota um tom algo delirante nas decorações e figurinos de gosto duvidoso. E a própria conclusão de “Reality” acentua esse inquietante misto de atração e repulsa que é a tônica da produção, o que torna a visão crítica de Garrone sobre a sociedade moderna ainda mais aguda.

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