A trilha sonora de “Depois de maio” (2012) é bastante emblemática
em relação à própria abordagem temática e estética do filme. Entre tais temas
melódicos, prevalece um cancioneiro roqueiro situado entre final dos anos 60 e
início dos 70, com enfoque maior para um amálgama de músicas que se situam
entre o folk pastoril, o psicodélico e o progressivo. Pois o que se vê na tela é
justamente a tradução visual dessa ambiência sonora. Olivier Assayas concebe
uma narrativa que se situa num universo quase à parte – as situações de
conflitos típicos da época (início dos anos 70, na ressaca do célebre maio de
1968) e os dilemas dos personagens são encenados com uma leveza desconcertante
(a trágica morte de Maria, por exemplo, beira o poético). O roteiro tem tintas
autobiográficas inspiradas na vida de Assayas, mas há uma ambiguidade intrigante
na forma com que a trama se desenrola, pois por vezes o filme beira o
fetichismo através de um registro audiovisual que privilegia a idealização,
cuja direção de fotografia valoriza o tipo físico jovem e belo de seu elenco
principal e também rústicas paisagens interioranas, ao mesmo tempo que a
história traz um forte conceito de desilusão com certos ideais políticos e
comportamentais. Assim, o olhar de Assayas é marcado pela complexidade e pela
ausência de maniqueísmos. A atmosfera nostálgica de uma época em que jovens se
metiam efetivamente em conflitos políticos e sociais, buscavam alternativas de
vida no campo das relações amorosas e tinham uma vivência mais intensa com atividades
culturais se choca com algumas das amargas conseqüências dessa vivência. E é na
força dessa dualidade de “Depois de maio” que reside o seu forte impacto
sensorial, em que o imaginário do espectador é jogado para dentro do dissoluto
espírito de uma época.
Um comentário:
Ainda não tive o privilégio de ver esse filme.
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