Num primeiro momento, a estrutura narrativa proposta pela
diretora alemã Margarethe Von Trotta em “Hannah Arendt” (2012) pode aparentar
um convencionalismo na sua linearidade com eventuais flashbacks. Com o
desenvolver do filme, entretanto, revela-se um trabalho muito mais complexo e
fascinante. Trotta concebe a sua obra como uma extensão artística e existencial
do próprio pensamento filosófico da sua protagonista.
Assim, por mais que a produção evoque questões de forte teor sentimental, a
abordagem da cineasta traz um distanciamento emocional desconcertante. Tanto
para Arendt como para Trotta, o falacioso entendimento de que o sentimentalismo
seria uma espécie de sinônimo de humanismo é equivocado, sendo que o
afastamento do pensamento mais racional representa um caminho de aproximação ao
totalitarismo. A identificação intelectual e
de ideais entre a diretora e a filósofa não faz com que a cinebiografia tenha
um conteúdo meramente laudatório, pois Trotta não se furta de apresentar as
contradições e dilemas que marcavam a vida e obra de Arendt, o que torna ainda
mais inquietante o seu pensamento de forte cunho libertário em relação a ideários
nacionalistas e comportamentais. A aludida identificação se traduz numa precisão
cirúrgica na condução da narrativa, e que por vezes traz de forma sutil uma
ironia cruel, principalmente nos momentos finais da produção, quando se
acredita que Arendt se encaminha para uma possível “redenção” perante seus
pares para que na conclusão só se confirme o seu status de pensadora fora do
status quo dos padrões aceitáveis de normalidade e moralidade. E são nesses
detalhes que Trotta qualifica seu filme em níveis transgressores semelhantes àqueles
estabelecidos nos escritos de Arendt.
Um comentário:
Foi uma pessoa com a mente muito a frente do seu tempo, mesmo tendo passado os horrores no holocausto.
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