O diretor pernambucano Daniel Aragão demonstra em seu longa
de estréia “Boa sorte, meu amor” (2012) ter uma espécie de sintonia existencial
e artística com seus colegas conterrâneos Cláudio Assis e Kleber Mendonça Filho.
Afinal, seu filme traz uma notável combinação de visão crítica da sociedade
ocidental contemporânea com uma estética que se desenvolve a partir de uma
abordagem em que predomina o sensorial. Nesse sentido, Aragão valoriza, às
vezes de forma precisa, outras vezes exagerada, aspectos diversos da linguagem
cinematográfica – lentos e exasperantes planos-sequência, uso insólito do som,
narrativa simbolista, atmosferas delirantes. Até a direção de elenco revela um
caráter diferenciado, em que a beleza da protagonista
Maria (Christiana Ubach) parece refletir uma inesperada inocência em meio a
sordidez moral que a rodeia, enquanto a interpretação inexpressiva Vinicius
Zinn na realidade cai como uma luva para o personagem Dirceu, um jovem
pequeno-burguês bunda-mole (e por vezes prepotente) que acaba engolido por um
destino que está muito além da sua confortável rotina de rapaz de bem. A ambição
temática de Aragão também chama a atenção – sua saga que varia entre o
intimista, o surreal e o político junta na mesma obra o urbano/moderno e o
rural/arcaico, retratando uma sociedade que se pretende cosmopolita e avançada,
mas que na realidade ainda é regida por velhos mecanismos excludentes. Se toda
essa pretensão em alguns momentos esbarra em excessos formais e textuais incômodos,
em outras passagens encanta pela sua contundência desconcertante.
Um comentário:
Um dos melhores filmes brasileiros desse ano.
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