terça-feira, outubro 15, 2013

Boa sorte, meu amor, de Daniel Aragão ***1/2


O diretor pernambucano Daniel Aragão demonstra em seu longa de estréia “Boa sorte, meu amor” (2012) ter uma espécie de sintonia existencial e artística com seus colegas conterrâneos Cláudio Assis e Kleber Mendonça Filho. Afinal, seu filme traz uma notável combinação de visão crítica da sociedade ocidental contemporânea com uma estética que se desenvolve a partir de uma abordagem em que predomina o sensorial. Nesse sentido, Aragão valoriza, às vezes de forma precisa, outras vezes exagerada, aspectos diversos da linguagem cinematográfica – lentos e exasperantes planos-sequência, uso insólito do som, narrativa simbolista, atmosferas delirantes. Até a direção de elenco revela um caráter diferenciado, em que a beleza da protagonista Maria (Christiana Ubach) parece refletir uma inesperada inocência em meio a sordidez moral que a rodeia, enquanto a interpretação inexpressiva Vinicius Zinn na realidade cai como uma luva para o personagem Dirceu, um jovem pequeno-burguês bunda-mole (e por vezes prepotente) que acaba engolido por um destino que está muito além da sua confortável rotina de rapaz de bem. A ambição temática de Aragão também chama a atenção – sua saga que varia entre o intimista, o surreal e o político junta na mesma obra o urbano/moderno e o rural/arcaico, retratando uma sociedade que se pretende cosmopolita e avançada, mas que na realidade ainda é regida por velhos mecanismos excludentes. Se toda essa pretensão em alguns momentos esbarra em excessos formais e textuais incômodos, em outras passagens encanta pela sua contundência desconcertante.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Um dos melhores filmes brasileiros desse ano.