O diretor norte-americano Ron Howard nunca se notabilizou
por ser especialmente ousado em termos estéticos, assim como sua carreira se
pautou por uma incômoda irregularidade – afinal o mesmo cara que dirigiu o
antológico “O tiro que não saiu pela culatra” (1989) concebeu o horroroso “Anjos
e demônios” (2009). Diante desse contexto, é o típico nome que não desperta
grandes expectativas. “Rush – No limite da emoção” (2013) é uma obra que volta
a dar crédito para Howard. Mesmo com as simplificações do roteiro e alguns
excessos de convencionalismo formal, é um filme que fascina na sua recriação da
mitologia da Fórmula 1 nos anos 70. A atmosfera elaborada pelo cineasta evoca
algo entre o sonhador e o hedonista, acentuando a nostalgia e uma certa
ingenuidade num período menos politicamente correto e também quando o esporte em
questão não estava tão dominado pelos interesses corporativos. Além disso,
Howard revela boa mão para a ação cinematográfica: as sequências de corrida são
alucinantes e brutais no registro detalhista de curvas, ultrapassagens e
violentos acidentes. Mesmo o fato da trama ser um tanto superficial na
caracterização psicológica das situações e seus personagens não se torna um
grande empecilho, pois o foco de Howard passa por um viés mitológico, icônico.
Assim, talvez “Rush” não seja o tratado cinematográfico definitivo sobre a Fórmula
1, mas mesmo assim acaba se tornando uma produção memorável pela carga visceral
inesperada da encenação de Howard.
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