Sem querer forçar a barra, mas dá para dizer que os nerds mais
sem critérios têm mais uma trilogia a acrescentar entre os seus objetos de
culto: a de filmes inspirados em grandes marcas da Internet. “A rede social”
(2010) mostrou os bastidores das origens e ascensão do Facebook, enquanto “Os
estagiários” (2013) tem uma trama fictícia cujo pano de fundo é uma espécie de
propaganda dos ideais do Google. Já esse “Jobs” (2013) pelo título já é
auto-explicativo: trata-se de uma cinebiografia do criador da Apple, Steve
Jobs. É interessante observar que cada uma de tais produções possui uma
abordagem diferente. “A rede social” se formata como uma ácida e brilhante crônica
de costumes da sociedade ocidental desse século. Já “Os estagiários”, apesar do
seu caráter marqueteiro, é uma competente e previsível “comédia universitária”.
“Jobs” envereda no gênero da cinebiografia clássica. Seus equívocos,
entretanto, não têm necessariamente relação com o seu convencionalismo. O que
irrita no filme é um tenebroso descompasso entre o que o roteiro se propõe (uma
análise crítica sobre a trajetória profissional de seu protagonista)
e a estrutura narrativa proposta pelo diretor Joshua Michael Stern, que parece
escolher um tom entre o laudatório e o edificante. Assim, prevalece uma
inconveniente e constante trilha sonora melosa (temos a permanente sensação de
se estar assistindo a uma grandiosa obra de caráter cívico), roteiro esquemático
e previsível, fotografia e edição sem a mínima criatividade, interpretações que
oscilam entre o medíocre e o constrangedor (francamente, semelhança física com
pessoais reais não deveria ser a condição principal na escolha do elenco).
Todos essas questionáveis escolhas artísticas levam a uma obra de sentido mais
que confuso – seria algo como “olha, o Jobs era um sociopata, mas no fundo era
um cara legal, afinal ganhou tanta grana....”.
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