Em algumas oportunidades, filmes comerciais e escapistas
conseguem trazer em sua essência uma visão muito mais contestadora e irônica em
relação aos costumes da sociedade moderna do que muitas produções pretensamente
sérias e artísticas. “Família do bagulho” (2013) é exemplo claro de tal situação.
Formatada como uma comédia romântica, com eventuais toques escatológicos e de
humor físico grosseiro, tendo direito inclusive a um certo tom de fábula moral,
a obra dirigida por Rawson Marshall Thurber traz com sutileza uma abordagem crítica
e ácida do moralismo tipicamente norte-americano. A falsa família composta
por desajustados (traficante, stripper, delinquente juvenil e virgem bobalhão)
até tem direito a uma redenção na conclusão do filme, mas traz também dentro de
si um certo tom de desafio aos padrões de normalidade. A sequência, por
exemplo, em que o garoto virginal é treinado pela “irmã” e pela “mãe” para
saber beijar traz uma dose inusitada de ironia perversa para esse tipo de produção.
Assim, mesmo estando longe da fúria cômica icoloclasta de um Monty Python, “Família
do bagulho” não deixa de representar um salutar desafio ao carolismo dos
blockbusters contemporâneos.
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