quarta-feira, dezembro 25, 2013

Amor bandido, de Jeff Nichols ***1/2

O cinema do diretor Jeff Nichols pertence a uma tradição que é recorrente na história da filmografia norte-americana: a de obras que se vinculam a gêneros clássicos e utilizam clichês bem definidos, sem necessariamente produzir alguma ruptura estética, mas que a partir desses elementos básicos criam um universo pleno de simbologias e sensorialismos marcantes. E esse é justamente o caso da produção mais recente dirigida por Nichols, “Amor bandido” (2012). Na sua estruturação narrativa, o filme se configura como um drama policial a se passar numa região pantanosa dos Estados Unidos. Em um nível mais profundo, entretanto, converte-se sutilmente numa crônica sobre a inocência perdida e no processo de amadurecimento de um adolescente. Boa parte do que se vê na tela vem pelo olhar de jovem Ellis (Tye Sheridan), o que faz com que a trama envolvendo crimes, sordidez e um caso de amor mal resolvido ganhe, por vezes, dimensões épicas e icônicas. O tratamento formal estabelecido por Nichols colabora para essa ambiguidade temática: a edição classuda e a fotografia luminosa a registrar a beleza bruta das paisagens fazem lembrar alguns faroestes memoráveis de John Ford. Vale ressaltar ainda que nessa vigorosa combinação de realismo e mitificação há composições dramáticas notáveis de atores como Matthew McConaughey, Sam Shepard e Michael Shannon, que se mostram em sintonia existencial e artística com as propostas formais e temáticas de Nichols.

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