O cinema do diretor Jeff Nichols pertence a uma tradição que
é recorrente na história da filmografia norte-americana: a de obras que se
vinculam a gêneros clássicos e utilizam clichês bem definidos, sem
necessariamente produzir alguma ruptura estética, mas que a partir desses
elementos básicos criam um universo pleno de simbologias e sensorialismos
marcantes. E esse é justamente o caso da produção mais recente dirigida por
Nichols, “Amor bandido” (2012). Na sua estruturação narrativa, o filme se
configura como um drama policial a se passar numa região pantanosa dos Estados
Unidos. Em um nível mais profundo, entretanto, converte-se sutilmente numa crônica
sobre a inocência perdida e no processo de amadurecimento de um adolescente. Boa
parte do que se vê na tela vem pelo olhar de jovem Ellis (Tye Sheridan), o que
faz com que a trama envolvendo crimes, sordidez e um caso de amor mal resolvido
ganhe, por vezes, dimensões épicas e icônicas. O tratamento formal estabelecido
por Nichols colabora para essa ambiguidade temática: a edição classuda e a
fotografia luminosa a registrar a beleza bruta das paisagens fazem lembrar
alguns faroestes memoráveis de John Ford. Vale ressaltar ainda que nessa
vigorosa combinação de realismo e mitificação há composições dramáticas notáveis
de atores como Matthew McConaughey, Sam
Shepard e Michael Shannon, que se mostram em sintonia existencial e artística
com as propostas formais e temáticas de Nichols.
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