terça-feira, dezembro 31, 2013

Um burguês muito pequeno, de Mario Monicelli ****


O diretor italiano Mario Monicelli foi um grande mestre da comédia, o que o torna ainda mais notável se pensarmos que a história do cinema do seu país de origem é marcada por grandes nomes do gênero. E Monicelli tinha um traço muito autoral, características bem próprias mesmos, na formatação de seus trabalhos cômicos. Suas produções traziam momentos de riso escancarado, mas também continham, de forma sutil, um tom amargo e desiludido com as mesquinharias do mundo contemporâneo. Nessa combinação entre o sarcástico e o dramático é que residia um enorme humanismo, qualidade sempre inerente em sua filmografia. “Um burguês muito pequeno” (1977) é um exemplar muito bem acabado das obsessões estéticas e temáticas de Monicelli, e também se apresenta como uma obra fortemente sintomática de sua obra. O cinema dos anos 1970 foi marcado pela consagração de um subgênero policial, em que os protagonistas eram indivíduos que se revoltavam com a violência de marginais e resolviam fazer justiça com as próprias mãos – nessa linha, é só pensar em clássicos da brutalidade como “Perseguidor implacável” (1971) e “Desejo de matar” (1974). O referido filme de Monicelli é uma espécie de resposta do cineasta a tais produções. Ao mostrar a trajetória acidentada e um tanto ridícula de um pequeno burocrata (Alberto Sordi) para vingar o filho morto numa ação terrorista, “Um burguês muito pequeno” acaba dando uma dimensão mais humana e profunda para a questão da vingança privada, além de oferecer um contundente retrato da alienação e falta de perspectivas do típico cidadão classe média da sociedade ocidental, e sem que o diretor abra mão de seqüências de pura ironia capazes de propiciar o riso, ainda que ela venha com uma porção venenosa de melancolia.

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