O diretor italiano Mario Monicelli foi um grande mestre da
comédia, o que o torna ainda mais notável se pensarmos que a história do cinema
do seu país de origem é marcada por grandes nomes do gênero. E Monicelli tinha
um traço muito autoral, características bem próprias mesmos, na formatação de
seus trabalhos cômicos. Suas produções traziam momentos de riso escancarado,
mas também continham, de forma sutil, um tom amargo e desiludido com as
mesquinharias do mundo contemporâneo. Nessa combinação entre o sarcástico e o
dramático é que residia um enorme humanismo, qualidade sempre inerente em sua
filmografia. “Um burguês muito pequeno” (1977) é um exemplar muito bem acabado
das obsessões estéticas e temáticas de Monicelli, e também se apresenta como
uma obra fortemente sintomática de sua obra. O cinema dos anos 1970 foi marcado
pela consagração de um subgênero policial, em que os protagonistas
eram indivíduos que se revoltavam com a violência de marginais e resolviam
fazer justiça com as próprias mãos – nessa linha, é só pensar em clássicos da
brutalidade como “Perseguidor implacável” (1971) e “Desejo de matar” (1974). O
referido filme de Monicelli é uma espécie de resposta do cineasta a tais produções.
Ao mostrar a trajetória acidentada e um tanto ridícula de um pequeno burocrata (Alberto
Sordi) para vingar o filho morto numa ação terrorista, “Um burguês muito
pequeno” acaba dando uma dimensão mais humana e profunda para a questão da
vingança privada, além de oferecer um contundente retrato da alienação e falta
de perspectivas do típico cidadão classe média da sociedade ocidental, e sem
que o diretor abra mão de seqüências de pura ironia capazes de propiciar o
riso, ainda que ela venha com uma porção venenosa de melancolia.
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