sexta-feira, dezembro 13, 2013

Precauções diante de uma prostituta santa, de Rainer Werner Fassbinder ****


O gênero do “filme dentro do filme” tem vários exemplares dentro da história do cinema. Geralmente, tais obras enveredam pelo caminho de ser uma declaração de amor ao ator de fazer um filme. Nas mãos perversas do diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, entretanto, a visão sobre a realização de uma obra cinematográfica ganha contornos mais perturbadores e imprevisíveis. “Precauções diante de uma prostituta santa” (1971) é uma produção ficcional que tem como trama os conturbados bastidores de uma filmagem. É muito provável que Fassbinder tenha se baseado em suas experiências pessoais na área, pois estão lá vários elementos que compõem o imaginário sobre o universo do cineasta em questão: um diretor temperamental e megalomaníaco, um elenco de atores repleto de instabilidades e inseguranças. Como é típico na sua filmografia, Fassbinder carrega numa atmosfera seca e de distanciamento emocional, além da carga antinaturalista das atuações. O fato de “Precauções...” versar sobre o cinema como temática principal faz com que seja um dos filmes de Fassbinder em que a estilização e o virtuosismo cinematográfico mais se evidenciem – há planos-sequência de execução milimétrica e de função narrativa notável, além de um senso de composição de cena fenomenal. O senso de contradição entre forma e conteúdo é espetacular: se na trama prevalece o caos no ambiente de filmagem, na formatação de “Precauções...” Fassbinder conduz a narrativa com extremos precisão e rigor.

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