O gênero do “filme dentro do filme” tem vários exemplares
dentro da história do cinema. Geralmente, tais obras enveredam pelo caminho de
ser uma declaração de amor ao ator de fazer um filme. Nas mãos perversas do
diretor alemão Rainer Werner Fassbinder, entretanto, a visão sobre a realização
de uma obra cinematográfica ganha contornos mais perturbadores e imprevisíveis.
“Precauções diante de uma prostituta santa” (1971) é uma produção ficcional que
tem como trama os conturbados bastidores de uma filmagem. É muito provável que
Fassbinder tenha se baseado em suas experiências pessoais na área, pois estão lá
vários elementos que compõem o imaginário sobre o universo do cineasta em questão:
um diretor temperamental e megalomaníaco, um elenco de atores repleto de
instabilidades e inseguranças. Como é típico na sua filmografia, Fassbinder
carrega numa atmosfera seca e de distanciamento emocional, além da carga antinaturalista
das atuações. O fato de “Precauções...” versar sobre o cinema como temática
principal faz com que seja um dos filmes de Fassbinder em que a estilização e o
virtuosismo cinematográfico mais se evidenciem – há planos-sequência de execução
milimétrica e de função narrativa notável, além de um senso de composição de
cena fenomenal. O senso de contradição entre forma e conteúdo é espetacular: se
na trama prevalece o caos no ambiente de filmagem, na formatação de “Precauções...”
Fassbinder conduz a narrativa com extremos precisão e rigor.
Boa parte de amigos e conhecidos costuma dizer que as minhas recomendações para filmes funcionam ao contrário: quando eu digo que o filme é bom é porque na realidade ele é uma bomba, e vice-versa. Aí a explicação para o nome do blog... A minha intenção nesse espaço é falar sobre qualquer tipo de filme: bons e ruins, novos ou antigos, blockbusters ou obscuridades. Cotações: 0 a 4 estrelas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário