Num nível mais superficial e resumido, pode-se dizer que “Leviathan”
(2012) é um documentário sobre a rotina
de um barco pesqueiro em águas marinhas. Num sentido mais profundo, entretanto,
trata-se de uma experiência sensorial bastante singular e perturbadora. As câmeras
são posicionadas em pontos bastante inusitados, indo da cabeça de um dos
pescadores até dentro dos mares, captando assim cenas surpreendentes e brutais.
No tom casual em que tais tomadas são obtidas, aos poucos aquilo que poderia
ser considerado a “trama” do filme vai se configurando e a conjunção de imagens
e sons vai adquirindo um sentido instintivo e desconcertante. O que era para
ser “cinema real” parece se converter num conto sombrio sobre o atribulado
relacionamento entre a natureza e o ser humano. Tal significado vem daquilo que
também é parte da essência do cinema – os registros audiovisuais que são
colhidos de forma praticamente aleatória recebem um tratamento de edição que
sintetiza com coerência e crueza absurdas a visão conceitual dos diretores
Lucien Castaing-Taylor e Verena Parável.
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