A indecisão de abordagem do diretor Denis Vileneuve em “Os
suspeitos” (2013) faz com que a produção pareça se dividir em dois filmes
distintos. Na primeira metade da trama, a narrativa tem uma ambiguidade perturbadora.
O tom da narrativa é seco e sóbrio, fruto de uma edição clássica e de uma
fotografia sombria que captura com notável precisão a melancolia dos cenários.
A trama se centra no desaparecimento de duas meninas numa cidade do interior
dos Estados Unidos, com o roteiro se concentrando mais nos efeitos psicológicos
que o fato desencadeia em suas famílias e na comunidade do que propriamente nas
causas do sumiço delas. Vileneuve constrói uma atmosfera inquietante, em que as
atitudes justiceiras do pai de uma das garotas
(Hugh Jackman) carregam o peso da dúvida – será que o que ele está fazendo é
certo? Será que o estranho rapaz que ele captura e tortura (Paul Dano) é
realmente o culpado? É como se Vileneuve dissesse que mais importante que as
razões do desaparecimento das garotas seriam
as consequências de tal fato. Nesse sentido, “Os suspeitos” faz lembrar obras
notáveis que adotaram esse tipo de proposta
temática e estética, como “Memórias de um assassino” (2003) e “Zodíaco” (2007).
Ocorre, entretanto, que na segunda metade do filme o direcionamento muda
radicalmente. Dá a impressão que alguém notou que o estilo adotado
estava sendo pouco comercial e acessível para as grandes platéias e daí se
resolvesse fazer um filme de suspense nos padrões mais convencionais do gênero.
O roteiro lança explicações muito fuleiras e previsíveis para os mistérios da
trama, e toda aquela instigante aura de ambigüidade de “Os suspeitos” se
esvanece. Vileneuve ainda consegue preservar uma certa classe formal, mas a
conclusão decepciona pelo seu tom derivativo e por colocar por terra tudo
aquilo que havia de promissor na sua primeira parte.
Um comentário:
Eu gostei muito do filme, talvez um dos melhores do ano, mas devo concordar que o diretor não teve total liberdade criativa.
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