Em sessão de debate com a platéia que sucedeu à exibição de “Cassandra
Rios: A safo de Perdizes” (2013), Hanna Korich, realizadora do filme em questão,
deixou claro que não se considera uma documentarista profissional e que a
intenção principal de sua produção era resgatar a memória de sua protagonista,
escritora lésbica bastante popular entre os anos 50 e 80 de romances de forte
teor erótico e que foi bastante censurada, principalmente na época da ditadura
militar. Vendo o documentário, é bem evidente essa falta de traquejo da
diretora. Nas cenas de depoimentos, Korich praticamente se limita a focalizar
seus entrevistados em longos comentários biográficos e/ou dissertativos sobre
Rios – falta uma caracterização de ambientação e também um trabalho mais zeloso
de edição. Do jeito que ficou, a impressão é a de longas seqüências de prolixas,
e por vezes tediosas, “cabecinhas falantes”. Incomoda também a falta de um
material audiovisual de arquivo mais amplo, tendo em vista que nesse sentido o
filme se limita a trechos de uma entrevista de Rios com Jô Soares. Além disso,
a narrativa tem um forte tom panfletário, o que atrapalha a fluência do seu
ritmo. Diante de todos esses equívocos, portanto, pode-se dizer que se trata de
uma obra dispensável? Pois é, pode parecer meio contraditório, mas mesmo com os
seus defeitos é um filme que merece ser visto pela riqueza de sua temática.
Cassandra Rios é uma figura fascinante e sua trajetória traz uma série de
questionamentos e contradições que são inerentes à história cultural, social e
comportamental do Brasil. Talvez o documentário de Korich possa servir como
ponta de lança para futuras abordagens cinematográficas mais aprofundadas e
melhor acabadas formalmente sobre a escritora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário