Em 1982, o cantor e compositor Bruce Springsteen lançou o
álbum “Nebraska”, um de seus melhores trabalhos e provavelmente seu disco mais
triste e anti-comercial. Em despojadas baladas, o músico procurava fazer um
inventário de figuras e situações que se referiam a um estado de espírito
especifico, versando sobre estradas, desajustados em geral, relações mal
resolvidas. A influência do disco foi tão marcante na cultura norte-americana
que se tornou uma referência não apenas no cancioneiro do país como também se
estendeu a outros meios de expressão. Em 1991, por exemplo, o ator Sean Penn
estreou na direção com “Unidos pelo sangue”, obra comovente que se inspirava na
canção “Highway Patrolman”, um dos pontos altos da obra-prima de Springsteen.
Confesso que não sei se “Nebraska” (2013), de Alexander Payne, tem alguma
relação direta com o disco em questão, mas sua atmosfera sóbria e a direção de
fotografia em preto e branco parecem uma extensão existencial daquela obra de
Springsteen. Por outro lado, o filme de Payne tem personalidade própria e que
se mostra em sintonia artística com a cinematografia do diretor – na realidade,
é seu melhor trabalho desde a sua estréia, “Eleições” (1999). A trama se
formata como uma crônica sobre os sonhos perdidos, a falta de perspectivas e a
mediocridade dos habitantes de cidades sem graça e desoladas do interior dos
Estados Unidos. O roteiro da produção, entretanto, injeta insólitas doses de
ironia e bom humor, fazendo com que “Nebraska” não caia na aridez temática e
formal. Mesmo a redenção que oferece aos principais personagens na sua
conclusão não soa forçada ou como concessão, mas como um sutil toque emocional
que engrandece ainda mais a dimensão humana de tais figuras. No mais, Payne
embala essa pequena saga familiar com alguns elementos formais expressivos,
como a direção de fotografia que busca enquadramentos e iluminação que emulam
um efeito pictórico na linha de um Norman Rockwell às avessas, além de da
trilha sonora climática e acústica baseada em temas folk e country que acabam
lembrando (sem querer ou não?) o próprio “Nebraska” de Springsteen.
Um comentário:
Um filme com uma linguagem cinematográfica setentista. Muito show.
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