Num primeiro plano, “Mais uma canção” (2013) seria um
documentário biográfico do músico gaúcho Bebeto Alves. Só que a abordagem
proposta pelos diretores Rene Goya Filho e Alexandre Derlam é mais ampla. A
partir da trajetória de seu protagonista, o
filme acaba oferecendo uma visão bastante lúcida e pouco óbvia do que significar
ser um músico no mundo contemporâneo, ainda mais com as peculiaridades tanto do
Brasil quanto da própria arte de Bebeto. Surgindo nos conturbados anos 70, ele
nunca facilitou as coisas para público e crítica – apesar das influências do
cancioneiro tradicional das milongas de sua terra natal, a fronteiriça
Uruguaiana, nunca fez música regional típica, partindo geralmente para fusões
com ritmos universais como reggae, rock, tecnopop e música árabe. Tal postura
artística irrequieta se reflete tanto no fato de Bebeto ter morado em várias
cidades quanto no fato de ter se mantido a margem de modismos fáceis ou
tradicionalismos limitadores. A formatação do filme tem a sensibilidade de
captar boa parte dessas nuances tanto pelo lado intimista e pessoal do músico
quanto pela contextualização histórica e social ao mostrar como Bebeto e sua
arte se inseriram em épocas diferentes. Para isso, Goya e Derlam se valeram de
registros como a gravação de um show-retrospectiva no emblemático Teatro Arena,
de raras imagens de arquivos, de depoimentos recentes e de trechos de uma
viagem de Bebeto por países orientais onde busca insólitas conexões da música de
tais localidades com as suas próprias canções. O trabalho de edição é muito bem
efeito ao combinar de forma harmoniosa esses diferentes registros e dar-lhes
uma unidade que sintetiza com fidelidade as particulares concepções artísticas
de Bebeto.
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