Assim como já havia feito em obras anteriores como “O
vencedor” (2010) e “O lado bom da vida” (2012), o diretor David O. Russell
procurou imprimir em “Trapaça” (2013) uma narrativa mais solta, que enveredasse
por uma abordagem mais naturalista. Só que tal concepção entra em contradição
com um certo tom operístico no seu formalismo – não à toa, o filme foi
comparado em mais de uma oportunidade com alguns filmes de Martin Scorsese.
Esse choque de estilos gera uma produção irregular. Os pontos altos da obra estão
em momentos cuja encenação fluida de Russell melhor aflora, principalmente
quando a tônica da dramaticidade está nas mãos de um inspirado elenco de
atores. Russell se notabiliza por ser um ótimo
diretor de atores e aqui extrai interpretações antológicas de Christian Bale,
Bradley Cooper, Amy Adams e Jennifer Lawrence, além da ponta mais do que
expressiva de Robert De Niro como um gangster (dá até vontade de vê-lo protagonizando
mais um filme de Máfia). O problema, entretanto, é quando a “Trapaça” se foca
numa trama um tanto genérica, que mais valoriza surrados recursos do tipo “truque
dentro do truque” do que na caracterização de tipos e situações (ao contrário,
por exemplo, do registro seco beirando o documental e do visceral humanismo de “O
vencedor”). Assim, mesmo o tom barroco da fotografia de belos planos seqüências
e enquadramentos grandiosos acaba soando mais como uma forçação de barra do que
uma real inspiração artística. É claro que no cômputo geral “Trapaça” é um
filme com um certo grau de magnetismo, mas a frustração está no fato de que se
sabe que Russell, pelo potencial artístico apresentado em outras obras, poderia
ter se saído muito melhor.
Um comentário:
Apenas uma imitação sem graça dos filmes de Scorsese. A Academia de Hollywood teve o bom senso de não dar nenhum prêmio a essa mediocridade, apesar das muitas e imerecidas indicações.
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