É claro que é normal que um cineasta mude com o passar dos
anos. Afinal, a maturidade pode fazer com que suas concepções artísticas
evoluam, que sua visão de mundo fique mais lúcida. Por vezes, entretanto,
mudanças parecem não fazer muito bem para a criatividade dos cineastas, o que
parece ser o caso do britânico Stephen Frears. Em seus primeiros filmes, ele
mantinha um registro seco e visceral, dando preferência para retratos
despojados dos subúrbios ingleses (“Minha adorável lavanderia”, “Sammy e Rosie”),
crônicas urbanas (“O amor não tem sexo”) e até mesmo algumas comédias de tons
naturalistas (“A grande família”, “A van”). Mesmo em suas primeiras produções
nos Estados Unidos se destacou em obras que reciclavam clichês de gêneros de
forma visceral e com inventividade (“Ligações perigosas”, “Herói”, “Os imorais”).
Em seus mais recentes filmes, Frears perdeu muito do seu gume criativo,
parecendo se conformar com um padrão de bom gosto asséptico e destituído de
vigor. E esse é justamente o caso de “Philomena” (2013). O aparente rigor estético
do diretor na verdade esconde um formalismo pálido e que acaba prejudicando até
mesmo a rica temática que se poderia extrair da mãe à procura do filho que lhe
foi tirado por freiras na sua juventude. A apatia da direção contamina ainda as
interpretações de Judi Dench e Steve Coogan, que entregam interpretações
apagadas. Ok, o filme recebeu algumas indicações ao Oscar e é capaz de angariar
a simpatia de adeptos de filmes “fofinhos com velhinhos”, mas o seu futuro
provavelmente é o limbo das produções esquecíveis. No mais, é esperar que Frears
um dia tome vergonha na cara, saia dessa lama e volte a fazer obras relevantes.
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