Muito mais que um mero pretexto para vender brinquedos, “Uma
aventura lego” (2014) é um filme que se expande para uma viagem para o imaginário
infantil, tanto de crianças quanto de adultos. A trama da animação brinca com
referências tanto ao universo lego quanto por citações a outros elementos da
cultura pop. E por trás de um roteiro focado na aventura e na comicidade,
repleto de personagens engraçados e carismáticos, encontra-se um subtexto de
forte teor orwerlliano, explorando até com um discreto tom sombrio conceitos
como a de uma sociedade distópica, em que a padronização desumana de
comportamentos e a influência subliminar da mídia são preceitos dominantes. A
estética adotada pelos diretores Phil Lord e
Chris Miller é uma insólita e criativa combinação entre efeitos digitais e uma
aparente “tosqueira” na movimentação de personagens e caracterização de cenários.
Tal concepção se relaciona com a própria natureza dos brinquedos legos, a de
estruturas de bonecos e objetos para montar, cujo design visual é puxado para o
estilizado e não para o realismo. Assim, a busca formal na encenação não é por
uma fluidez natural, mas pelo movimento que emula um indivíduo brincando e
interagindo com os legos. Nesse sentido, a explicação na parte final do filme para
as entidades (ou deuses) que regem o mundo dos personagens é uma engenhosa e até
sofisticada sacada temática. De certa forma, as boas idéias conceituais de “Uma
aventura lego” acabam funcionando como excelente propaganda para os brinquedos
que deram origem à produção, no sentido que reforçam o seu caráter nostálgico,
lúdico e criativo.
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