terça-feira, março 25, 2014

A música nunca parou, de Jim Kohlberg ***


O nome do escritor e médico Oliver Sacks já é conhecido para o público do cinema. Houve pelo menos dois filmes de sucesso razoável que foram baseados em obras suas, “Tempo de despertar” (1990) e “Patch Adams” (1998), ambos versando sobre episódios baseados em casos reais de médicos que usaram algum tipo de terapia alternativa para curar ou amenizar graves enfermidades. “A música nunca parou” (2011) também é baseado em uma obra literária de Sacks. Ok, a gente pode até pensar em mais um melodrama médico estilo “Sessão da Tarde” ou “Supercine”, mas essa produção dirigida por Jim Kohlberg acaba se sobressaindo por alguns detalhes importantes. O principal deles é a forte ligação de sua trama com o rock sessentista. No roteiro do filme, Gabriel (Lou Taylor Pucci) é um rapaz que perdeu memórias e funções cognitivas devido a uma cirurgia cerebral e que volta a se conectar ao mundo graças a um trabalho de musicoterapia que usa canções de Beatles, Rolling Stones, Buffalo Springfield, Bob Dylan, Grateful Dead e afins. A produção, entretanto, não se limita ao drama médico do protagonista, revelando-se também como uma eficiente narrativa a retratar os conflitos de gerações e ideais característicos dos anos 60. A abordagem de Kohlberg é bastante emocional ao focar as relações humanas, caindo para uma certa previsibilidade sentimental, mas por vezes é inegável a força comovente de sua história. E também se sobressai a forma empolgante e arguta com que a música é utilizada no filme, no sentido que ela sublinha com sensibilidade emoções e características das personagens da trama. Nesse sentido, por exemplo, a ligação apaixonada entre Gabriel e o cancioneiro e a mitologia que envolve o Grateful Dead é bastante reveladora – a personalidade amorosa e libertária do rapaz parece uma extensão natural do doce country psicodélico dos Dead.

Nenhum comentário: