No papel, a trama de “Louca paixão” (1973) pode parecer
corriqueira – a trajetória de um relacionamento amoroso marcado pela luxúria. Só
que com o diretor holandês Paul Verhoeven as coisas nunca são tão simples.... A
perspectiva humanista do cineasta é notável, pois sua visão estética e temática
é marcada por uma carnalidade intensa (a fotografia de pesados tons laranjas
concebida por Jan De Bont é a expressão imagética perfeita dessa concepção).
Poucos diretores trabalharam essa questão física com tanta veemência e de forma
tão singular. No olhar de Verhoeven, não há espaço para a idealização de
sentimentos. Por mais que o próprio casal de protagonistas Eric (Rutger Hauer)
e Olga (Monique Van De Vem) não admita ou mesmo entenda, sua relação é marcado
pela obsessão sexual, pelo culto a um ideal de beleza. Tal concepção acaba
entrando em choque tanto com as noções de amor romântico da cultura ocidental
quanto com os contemporâneos costumes pequeno-burgueses. Assim, o caráter de
tal relação é da autodesintegração natural, o que fica evidenciado na estrutura
narrativa não tão linear, que faz o filme começar pela metade, quando já se
sabe que o casamento de Eric e Olga foi para o espaço. Essa abordagem de
Verhoeven ganha uma dimensão libertária não só pela forma apaixonada e
detalhista com que registra as ousadas cenas de sexo, mas também por essa
lucidez e crueza com que disseca o relacionamento amoroso de suas personagens.
E também é notável a constatação de que o diretor preservou todas essas
particulares e perversas noções artísticas de “Louca paixão” quando migrou para
Hollywood, mesmo transitando por diferentes gêneros cinematográficos como a
ficção científica (“Robocop”, “Tropas estelares”), suspense (“Instinto selvagem”)
e melodrama (“Showgirls”).
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