A estrutura narrativa proposta pelo diretor Rithy Panh para
o documentário “Bophana: Uma tragédia cambojana” (1996) é simples, mas
altamente eficaz e expressiva. Para mostrar a história de um casal de
intelectuais resistentes que foram perseguidos, torturados e mortos pela
ditadura de Pol Pot no Camboja dos anos 70, o cineasta recorre à leitura das
cartas trocadas entre os amantes nos períodos em que ficavam separados devido
ao conflito, a algumas entrevistas com pessoas que participaram daqueles
eventos e a filmagens em locais onde boa parte dos fatos se desenvolveu. Talvez
a influência mais evidente seja a do extraordinário “Noite e neblina” (1955) de
Alain Resnais, em que a história de um campo de concentração nazista é contada
sem se recorrer a nenhuma imagem de arquivo. No filme de Panh, temos até alguns
breves trechos de registros da época, mas o foco principal mesmo é nas longas e
emocionais missivas dos amantes no contraste com os cenários desoladores onde
suas tragédias pessoais ocorreram, obtendo um efeito dramático de forte impacto
sensorial. No mais, há ainda as cenas impressionantes de um ex-soldado do
governo ditatorial detalhando como eram as execuções em massa de dissidentes e
guerrilheiros – o tom natural e por vezes até permeado com sorrisos nos faz
lembrar da tão aludida banalidade do mal.
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