O diretor sueco Bille August se tornou um nome conhecido no
panorama cinematográfico mundial devido a duas expressivas produções: “Pelle, o
conquistador” (1987) e “As melhores intenções” (1992), ambas realizadas em seu
país natal. Tais obras eram melodramas de abordagem emocional sóbria e o rigor
narrativo notável (o segundo, inclusive, contava com o extraordinário roteiro
autobiográfico de Ingmar Bergman), trazendo prêmios e prestígio para o cineasta
e tornando-o um dos talentos mais promissores na época. Quando foi cooptado por
Hollywood, entretanto, sua criatividade e marca autoral pareceram ter sumido –
vide sua decepcionante estreia no mercado norte-americano, o atroz “A casa dos
espíritos” (1993). Desde então, August se tornou um diretor qualquer, daqueles
que pega trabalhos genéricos e não deixa claro o menor traço autoral. “Trem
noturno para Lisboa” (2013) é exemplar claro dessa atual e insípida fase de
August. O filme obedece a uma fórmula daquilo que seria considerado uma obra “adulta”
e de “bom gosto” nos dias de hoje: temática histórica relevante, tradicionais
cidades européias servindo como cenários, lições de vida edificantes, alguns
atores de prestígio precisando de grana, narrador ou personagens proferindo
verdades filosóficas estilo auto-ajuda e um toquezinho de romance (triângulos
amorosos são tiro-e-queda). Assim, dá-lhe cenas como aquela do protagonista com
os olhos semi-cerrados sendo em frente ao mar, com iluminação crepuscular,
escrevendo filosofias de botequim como se fossem grandes revelações
iluminadas... Quaisquer traços de ousadia e tentativas de fugir das obviedades
são soterradas para não ofender o espectador. No final das contas, esse tipo de
produção é até mais perniciosa que aqueles barulhentos e frenéticos
blockbusters de aventura e ação, no sentido de entregar mastigadinha para o seu
público a sua possível “mensagem”, não lhe dando o menor espaço para interpretar
aquilo que está vendo.
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