sexta-feira, março 07, 2014

Tudo por um furo, de Adam McKay ***


Em “O ancôra – A lenda de Ron Burgundy” (2004), o diretor Adam McKay e o ator Will Ferrell conceberam uma obra que era reflexo direto de suas experiências estéticas e temáticas no humorístico televisivo “Saturday Night Live”. O fio de história era mero pretexto para uma sucessão desvairada de cenas marcadas por uma comicidade alucinada, repletas de improvisos e nonsense. O filme ainda servia como retrato corrosivo tanto do imaginário nostálgico dos anos 70 quanto da imbecilidade do norte-americano médio no seu misto de machismo e patriotismo. A produção se tornou referência para a comédia dos EUA na década passada bem como delineou o tipo de humor que seria adotado por McKay e Ferrell em suas colaborações conjuntas posteriores. Dessa forma, até é de se estranhar que tenha demorado tanto para aparecer uma continuação. “Tudo por um furo” (2013) retoma as aventuras de Burgundy (Ferrell), só que situando a história nos anos 80 e em Nova Iorque. No cômputo geral, essa continuação não tem o mesmo impacto criativo da primeira parte. Isso ocorre porque a formatação ficou bem mais convencional, com a narrativa se prendendo a um roteiro mais estruturado, com direito, inclusive, a discussões éticas e com final bem moralizante, abusando ainda da revisão de certos clichês que haviam sido trabalhados com mais convicção e inspiração em trabalhos anteriores da dupla. Ainda sim, o filme tem os seus momentos hilariantes, em que o senso cômico de Ferrell e companhia conseguem uma estranha síntese entre o cretino e o surreal, mandando também às favas as noções de politicamente correto, além de captar com razoável sensibilidade muito daquela atmosfera de individualismo exacerbado típica dos anos 80.

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