quinta-feira, março 20, 2014

Ninfomaníaca - Volume 2, de Lars Von Trier ***1/2


Em relação à primeira parte, o segundo volume de “Ninfomaníaca” (2014) não traz a mesma consistência narrativa – a unidade entre os episódios da vida de Joe (Charlotte Gainsbourg) narrada para Seligman (Stellan Skarsgård) é mais difusa e irregular, fazendo com que as próprias intenções artísticas de Lars Von Trier pareçam por vezes um tanto pueris. Não parece ser a toa que numa determinada cena Joe diga para Seligman que ele já tinha feito digressões mais convincentes sobre as aventuras sexuais dela. Isso sem falar que algumas personagens aparecem e somem sem maiores explicações ou desenvolvimento de suas características. Por outro lado, é inegável que o filme ainda consegue trazer em algumas seqüências antológicas muito do sarcasmo e das idiossincrasias formais de Von Trier. Predomina aquele desconcertante distanciamento emocional típico do diretor, em que sexo, violência e angústia extravasam na tela, mas sem um pingo de sobressaltos dramáticos, o que revela uma precisa sintonia com o dilema existencial da protagonista – uma viciada em sexo que acaba se tornando frígida. Nesse sentido, as cenas mais impressionantes de “Ninfomaníaca – Volume 2” são aquelas que trazem Joe buscando alguma sensação em experiências brutais com o sádico K (Jamie Bell, em perturbadora interpretação). Isso sem falar no seco, desapaixonado e brilhante registro da transa a três entre Joe e dois imigrantes africanos. Na meia hora final da produção, Von Trier delineia um possível desenlace moralizante para a história, sugerindo improváveis expiação e redenção moral de Joe, mas tal direcionamento é enganador de forma engenhosa: a conclusão da obra é seca e cínica, sublinhando de forma perversa a visão nada romântica e idealizada de Von Trier sobre as relações humanas.

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