Em relação à primeira parte, o segundo volume de “Ninfomaníaca”
(2014) não traz a mesma consistência narrativa – a unidade entre os episódios
da vida de Joe (Charlotte Gainsbourg) narrada para Seligman (Stellan Skarsgård)
é mais difusa e irregular, fazendo com que as próprias intenções artísticas de
Lars Von Trier pareçam por vezes um tanto pueris. Não parece ser a toa que numa
determinada cena Joe diga para Seligman que ele já tinha feito digressões mais
convincentes sobre as aventuras sexuais dela. Isso sem falar que algumas
personagens aparecem e somem sem maiores explicações ou desenvolvimento de suas
características. Por outro lado, é inegável que o filme ainda consegue trazer
em algumas seqüências antológicas muito do sarcasmo e das idiossincrasias formais
de Von Trier. Predomina aquele desconcertante distanciamento emocional típico
do diretor, em que sexo, violência e angústia extravasam na tela, mas sem um
pingo de sobressaltos dramáticos, o que revela uma precisa sintonia com o
dilema existencial da protagonista – uma viciada em sexo que acaba se tornando
frígida. Nesse sentido, as cenas mais impressionantes de “Ninfomaníaca – Volume
2” são aquelas que trazem Joe buscando alguma sensação em experiências brutais
com o sádico K (Jamie Bell, em perturbadora interpretação). Isso sem falar no
seco, desapaixonado e brilhante registro da transa a três entre Joe e dois
imigrantes africanos. Na meia hora final da produção, Von Trier delineia um
possível desenlace moralizante para a história, sugerindo improváveis expiação
e redenção moral de Joe, mas tal direcionamento é enganador de forma engenhosa:
a conclusão da obra é seca e cínica, sublinhando de forma perversa a visão nada
romântica e idealizada de Von Trier sobre as relações humanas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário