O diretor José Eduardo Belmonte é um dos nomes mais
interessantes a ter surgido no panorama do cinema nacional dos últimos dez
anos. Em obras como “A concepção” (2005) e “Se nada mais der certo” (2008),
realizou uma espécie de radiografia de uma geração jovem de classe média,
desiludida e um tanto perdida em meio a hedonismos e comportamentos amorais, além
do cineasta adotar uma concepção formal mais livre e de narrativa não tão
linear. Assim, é de se estranhar que sua incursão pelo gênero policial em “Alemão”
(2013) seja tão desastrosa. Para começar, os admiradores da franquia “Tropa de
elite” nem devem se animar com a perspectiva de mais um filme de ação
brasileiro a usar como pano de fundo o conflito entre policiais e traficantes
nos morros cariocas – as cenas de tiroteios e perseguições automobilísticas beiram
o amadorismo constrangedor na obra de Belmonte, bem distante da dinâmica e
encenação rigorosas obtidas por José Padilha em suas obras mais célebres. E
naquilo que poderiam ser os pontos fortes e de salvação da produção, o roteiro
e a ambientação em seqüências mais intimistas, a frustração se estende. A trama
é marcada por uma histeria permanente – raramente os personagens conseguem
manter um diálogo sem gritarias e sem tropeçar em clichês irritantes. Belmonte
parece ter esquecido que um filme policial não é feito apenas de ápices climáticos
– por vezes, tem-se a impressão de assistir a refilmagem da tenebrosa versão
cinematográfica de “300” ambientada nas favelas do Rio de Janeiro. As
personagens de “Alemão” se expressam e se movem sem naturalidade, como se
fossem simulacros mal-feitos de tipos característicos de um filme policial, além
de ficarem presos a situações cretinas do roteiro que nem uma novela das oito
hoje em dia teria coragem de infligir ao espectador. Ok, talvez uma novela
mexicana ainda admitisse algo assim... O que dizer, por exemplo, da premissa
hilária de que um policial infiltrado na favela tenha como chefe o delegado de
polícia que é seu pai? Ou por quê um informante do tal delegado ficaria
desfilando de moto pelo Complexo do Alemão com uma mochila onde consta as fichas
completas de todos os policiais infiltrados naquela região? Assim, mesmo bons
atores como Antônio Fagundes, Mihem Cortaz e Caio Blat sucumbem a excessivas canastrices
diante de escolhas estéticas e textuais tão equivocadas por parte de Belmonte.
Nenhum comentário:
Postar um comentário