Se “Clementina de Jesus: Rainha
Quelé” (2012) é uma obra documental marcada pela inconsistência narrativa e
pouca profundidade informativa, “Lira Paulistana e a vanguarda paulista” (2012)
é o oposto contundente. Dirigida com paixão e criatividade por Riba Castro, um
dos fundadores da casa de shows e performances em questão, o filme é bastante
esclarecedor sobre as razões que levaram aquele espaço cultural a ser tornar um
mítico referencial tanto de uma época (anos 80) quanto de uma cena musical, que
ia tanto dos principais nomes do movimento da vanguarda paulista (Arrigo
Barnabé, Itamar Assumpção, Rumo, Língua de Trapo, Premeditando o Beque) até o
punk casca grossa (Inocentes, Cólera, Ratos de Porão), passando por uma série
de nomes díspares, todavia igualmente inquietantes, que não encontravam espaço
no grande mercado comercial, mas que na Lira Paulistana podiam expor sem
concessões as suas particulares concepções artísticas. A profusão de raros
audiovisuais de arquivos e depoimentos não faz com que o documentário caia no
mero didatismo – a dinâmica narrativa estabelecida por Castro oferece ao filme
uma dimensão humana fascinante, plena de lirismo e bom humor, além de mostrar
com sensibilidade a relação intrínseca e de simbiose entre a musicalidade insólita
e fora dos padrões daqueles artistas com a própria natureza caótica da cidade
de São Paulo. Tal olhar inusitado e lúcido confirma que em algumas
oportunidades a visão subjetiva sobre os fatos pode ser muito mais fiel sobre a
amplitude e importância deles do que o simples registro dito “objetivo e
imparcial”.
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