Confesso que uma coisa não ficou clara em “Eles voltam” (2011)
para mim – por várias vezes, os diálogos ficam incompreensíveis, ou
simplesmente inaudíveis, tanto pelo fato dos ruídos ambientais estarem mixados
de forma alta como pela situação das conversas entre os personagens serem
proferidas num volume mais baixo. Na realidade, a própria dicção de boa parte
dos atores não colabora muito para o entendimento. Não sei se isso ocorreu por
algum problema no áudio da sala em que assisti ou foi por opção estética mesmo
do diretor Marcelo Lordello. Também é fato, entretanto, que tal aspecto não
dificulta muito a compreensão existencial da obra em questão. Através de uma
narrativa minimalista e de uma direção de fotografia expressiva, Lordello
estabelece uma espécie de parábola moral do Brasil contemporâneo. A saga de
garota pequeno burguesa Cris (Maria Luiza Tavare) que é abandonada numa estrada
do sertão nordestino e fica errando por cidadezinhas e famílias humildes acaba
ganhando uma conotação de uma pequena viagem pelo Brasil profundo, mostrando
com certa contundência os contrastes tanto entre o urbano e o rural quanto
entre as classes sociais, equilibrando a trajetória da amadurecimento pessoal
de Cris com a sua própria compreensão de uma sociedade desigual e em conflito.
A crueza da encenação proposta por Lordello, com um elenco de atores amadores e
abordagem formal de tons documentais, acentua ainda mais a visão ácida e lúcida
do filme sobre as relações humanas na sociedade brasileira.
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