O formalismo bastante particular do diretor Wes Anderson
permanece intacto em “O Grande Hotel Budapeste” (2014). O que há de diferente
nessa mais recente produção do cineasta norte-americano é que ele adequa o seu
habitual estilo de narrativa dentro do gênero dos filmes de guerra e
espionagem. O resultado final é divertido e estimulante. Anderson abusa do
refinamento de sua estética – suas composições visuais são detalhistas e de
tons pictóricos, remetendo a quadros antigos do final século XIX e do início do
século XX, além de uma encenação originalíssima no seu misto de naturalismo e
toques teatrais. Tais noções artísticas se expandem numa forma de filmar e editar
que trazem um forte traço de cerebralismo e sutileza e que se mostra em
perfeita sintonia com o próprio espírito da trama, em que o tom de comédia
levemente amalucada de mal entendidos e reviravoltas, típicas de uma história
de espionagem, esconde um subtexto sofisticado no seu conteúdo melancólico e lúcido
sobre a natureza das relações humanas. Aliás, nesse sentido temático, “O Grande
Hotel Budapeste” é um dos trabalhos de Anderson cujo caráter humanista fica
mais nítido, principalmente no belo elogio que faz da civilidade – o protagonista
M. Gustave (Ralph Fiennes, em sua melhor interpretação em anos), por mais
picareta que possa ser ao seduzir inúmeras senhoras ricas, sempre mantém como
norma de conduta um comovente respeito pela dignidade humana. A seqüência, por
exemplo, em que ele se desculpa com o parceiro Zero (Tony Revolori) por uma ríspida
explosão emocional é de uma pungência poética.
Um comentário:
Um dos melhores e mais divertidos filmes do ano
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