A proposta formal e estética de “A batalha de Solferino” (2013)
é bastante ousada: a combinação de uma trama ficcional de teor intimista com
tomadas reais nas ruas de Paris no dia da eleição presidencial na França em
2012. A intenção dessa conjunção é óbvia – traçar um paralelo entre os
violentos conflitos verbais e físicos entre um casal divorciado e a atribulada
convivência política entre esquerda socialista e direita neoliberal em um país
em plena crise econômica e social. A diretora Justine Triet é bem sucedida ao
traçar essa sintonia existencial entre esses dois universos que não estão tão
paralelos assim, sendo que a produção em questão acaba se tornando uma
contundente obra a retratar o espírito de uma época. Para isso, a cineasta se
vale de uma virulenta encenação naturalista na porção ficção do filme, em que
uma dramaticidade de crueza desconcertante por vezes se permite a bem vindos
toques irônicos. A produção fica ainda mais impressionante quando praticamente
todos os personagens principais vão para as ruas, com os atores interagindo em
conturbados registros documentais, a um ponto em que ficção e realidade se unem
em uma coisa só.
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