Quando o Federico Fellini estava numa fase de indefinições
criativas sobre o seu próximo filme, ele resolveu transformar essa crise
criativa em matéria-prima para a produção em questão. Nesse contexto, acabou
lançando uma de suas maiores obras-primas, “Oito e meio” (1963). Guardada as
devidas proporções, os diretores Phil Lord e Christopher Miller parecem ter
sofrido de dilemas e soluções parecidos para “Anjos da lei 2” (2014). Em toda a
sua metragem, criadores e personagens dão a impressão de ter a autoconsciência que
essa continuação do filme de 2012, que já era a recriação de um seriado
televisivo dos anos 80, dificilmente teria algo de diferente para mostrar na
comparação com a primeira parte e que tudo soaria como um prato requentado.
Dessa forma, a segunda parte acaba mostrando piadas constantes com a repetição
de idéias e soluções formais e temáticas, além de um senso de humor mais
escrachado (as ironias de insinuações homoeróticas entre a parceria dos
protagonistas policiais passam muito longe da sutileza). Lord e Miller não se
constrangem nenhum pouco em regurgitar uma grande parte dos clichês de produções
policiais genéricas e nem com os furos ostensivos do roteiro – afinal, eles têm
a boa desculpa de que tudo nessa continuação é uma picaretagem assumida. Nem
sempre essa opção voluntária pelo grotesco funciona a contento, mas em alguns
momentos “Anjos da Lei 2” encanta por um clima demente que beira o surreal e
pelas atuações desencanadas de Jonah Hill e Channing Tatum. E na maior
cara-de-pau, prepara o terreno para mais uma continuação...
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