segunda-feira, setembro 29, 2014

Mesmo se nada der certo, de John Carney ***


A relação do cineasta irlandês John Carney é intensa. As tramas dos seus filmes se prendem a estruturas clássicas e pré-definidas, mas o forte está no subtexto delas, que servem como uma espécie de reflexão sobre o papel das canções populares no mundo contemporâneo. Se no melodrama “Apenas uma vez” (2006) a música servia como uma espécie de redenção pessoal para os seus personagens levemente desajustados, na comédia romântica “Mesmo se nada der certo” (2014) se pode dizer que o olhar é um pouco mais aprofundado dentro dessa temática. Como narrativa, essa produção mais recente recicla as ideias formais básicas do primeiro filme: atmosfera agridoce, estética de visual mais cru e granulado, números musicais pontuando a trama, personagens simpáticos e melancólicos. As soluções temáticas são previsíveis e por vezes tem até um viés um tanto conservador. Por outro lado, o filme traz uma perspectiva até bem realista e lúcida sobre a indústria musical, evidenciando que aquela antiga estrutura do artista que vê na grande gravadora a solução para todas as suas preces está em franca decadência diante de inovações tecnológicas e comportamentais que mudaram radicalmente a forma com que as pessoas se relacionam com a música. Mesmo o conceito de um álbum se tornou nebuloso... Assim, “Mesmo se nada der cento” acaba ganhando uma forte carga emblemática ao se impor como obra que capta o espírito de uma época. E de bônus, ainda traz uma ótima interpretação de Mark Ruffalo (e que compensa a atuação afetada e careteira de Keira Knightley).

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Boa dica mas que ainda não tive o prazer de vê-la