O que incomoda em “O último amor de Mr. Morgan” (2013) não é
a previsibilidade de seu roteiro ou o convencionalismo de sua narrativa. O
grande problema do filme está na abordagem formal que a diretora Sandra
Nettelbeck dá para o seu material. Num filme cuja trama mostra eutanásia, um
idoso suicida, personagens desajustados e uma família disfuncional, acaba sendo
destoante e covarde o tratamento “fofinho” oferecido pela obra em questão. A
cada cinco minutos os personagens proferem alguma frase de efeito ou uma lição
de vida, ou seja, não há um encadeamento orgânico na interação entre
personagens e as situações do roteiro. E também de forma periódica, em cenas
que eram para serem cruciais, irrompe uma terna e melosa trilha sonora, que
pontua uma falsa delicadeza que se impõe de forma nada sutil e busca uma relação
emocional forçada com a plateia. Pode até ser que tenham algumas moçoilas ou
senhoras que chorem um pouco, mas também é evidente que o artificialismo e o
tom manipulador de tais expedientes retiram muito da força dramática que o
filme poderia oferecer. É claro que alguma coisa se destaca, principalmente na
boa interpretação de Michael Caine e na graciosidade carismática da bela Clémence
Poésy. O que predomina mesmo em “O último amor de Mr Morgan”, entretanto, é uma
narrativa amorfa e a insipidez de sua estética.
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