terça-feira, setembro 23, 2014

De menor, de Caru Alves de Souza ***


Com boa parte de sua trama se desenvolvendo dentro do ambiente de uma vara judiciária dedicada a ações envolvendo menores delinqüentes, seria fácil classificar “De menor” (2013) como um mero filme dedicado a fazer alguma denúncia social. Seria também, entretanto, equivocado, pois a amplitude temática e estética da obra vai bem mais além. A diretora Caru Alves de Souza opta por uma moldura formal espartana e elegante, valendo-se de longos planos-sequência, edição de cortes discretos e um roteiro de poucos personagens e variações quase mínimas. Nessas soluções estéticas, sua obra acaba construindo uma narrativa que oscila entre a fábula moral e o pesadelo simbolista. Mais do que ser um libelo contra a punição jurídica exacerbada para adolescentes, “De menor” se configura como o retrato da alienação da sociedade e da nulidade dos ritos jurídicos perante questões e comportamentos que fogem do espectro daquilo que seria uma “boa conduta”. Por várias vezes, a trama confronta o discurso legal e dito racional da protagonista Helena (Rita Batata), uma defensora pública, com as atitudes impulsivas e desconexas de seu irmão adolescente Caio (Giovanni Gallo). Do resultado de tal contraponto existencial resta a perplexidade progressiva de Helena com a vida dupla do irmão bem como o vazio moral da retórica arrogante e burocrata de um aparelho de justiça (defensores, juízes e promotores) que cada vez perde mais o sentido diante o seu alheamento da realidade social que o cerca.

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