Com boa parte de sua trama se desenvolvendo dentro do
ambiente de uma vara judiciária dedicada a ações envolvendo menores delinqüentes,
seria fácil classificar “De menor” (2013) como um mero filme dedicado a fazer
alguma denúncia social. Seria também, entretanto, equivocado, pois a amplitude
temática e estética da obra vai bem mais além. A diretora Caru Alves de Souza
opta por uma moldura formal espartana e elegante, valendo-se de longos
planos-sequência, edição de cortes discretos e um roteiro de poucos personagens
e variações quase mínimas. Nessas soluções estéticas, sua obra acaba
construindo uma narrativa que oscila entre a fábula moral e o pesadelo
simbolista. Mais do que ser um libelo contra a punição jurídica exacerbada para
adolescentes, “De menor” se configura como o retrato da alienação da sociedade
e da nulidade dos ritos jurídicos perante questões e comportamentos que fogem
do espectro daquilo que seria uma “boa conduta”. Por várias vezes, a trama
confronta o discurso legal e dito racional da protagonista Helena (Rita
Batata), uma defensora pública, com as atitudes impulsivas e desconexas de seu
irmão adolescente Caio (Giovanni Gallo). Do resultado de tal contraponto
existencial resta a perplexidade progressiva de Helena com a vida dupla do irmão
bem como o vazio moral da retórica arrogante e burocrata de um aparelho de
justiça (defensores, juízes e promotores) que cada vez perde mais o sentido
diante o seu alheamento da realidade social que o cerca.
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