segunda-feira, setembro 08, 2014

Antes do inverno, de Phillipe Claudel ***


Mesmo obedecendo a uma ordem narrativa típica do cinema francês “de qualidade”, “Antes do inverno” (2013) consegue se sobressair por algumas interessantes nuances. A trama em um primeiro momento foca suas atenções no drama corriqueiro de um casal de meia-idade em crise sentimental. Aos poucos, o roteiro evolui para algo mais profundo e inquietante, ao mostrar o protagonista Paul (Daniel Auteuil), um bem sucedido neurocirurgião, tornar-se obcecado por uma misteriosa e instável jovem (Leila Bekthi) que se prostitui nas horas vagas. Mais do que uma simples aventura sentimental, a obsessão do personagem corresponde também a uma viagem por um mundo desconhecido que se contrapõe ao conforto asséptico de sua vida pequeno-burguesa. A atmosfera do filme é de uma tensão difusa, em que as intenções e desejos dos indivíduos nunca ficam claros. A descida de Paul a um submundo que não compreende e o confunde faz lembrar as aventuras eróticas e existenciais daquele protagonista de “De olhos bem fechados” (1999). O diretor Philippe Claudel pode não ter o mesmo preciosismo formal de Kubrick, mas consegue algumas soluções estéticas e temáticas eficientes em “Antes do inverno”, principalmente no expressivo contraponto que faz entre um estilo “clean” de filmar e editar com o teor obscuro de sua trama. A perturbadora conclusão do filme é uma contundente síntese dessa abordagem artística de Claudel.

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