terça-feira, setembro 16, 2014

Era uma vez em Nova York, de James Gray ****



O que determina o padrão autoral do diretor norte-americano James Gray não é um gênero específico a qual se vincule, mas sim a forma como modela o gênero em questão de acordo com a sua linha estética. Foi assim no policial “Os donos da noite” (2007) e no drama romântico “Os amantes” (2008). No drama de época “Era uma vez em Nova York” (2013), Gray continua a exercitar a sua forma particular de fazer cinema. A estrutura clássica da narrativa pode sugerir uma produção acadêmica qualquer, mas tal impressão é enganadora. É nas nuances que o filme se sobressai – a extraordinária direção de fotografia de tons marrons que sugere uma atmosfera de pesadelo, a abordagem emocional sóbria, o delicado trabalho de direção de atores que resulta em interpretações intensas e antológicas de Joaquin Phoenix e Marion Cotillard. O resultado das escolhas artísticas de Gray é uma obra de um sensorialismo elegante e sombrio, que se insinua no imaginário como um perturbador conto moral, em que a difusa natureza das relações de dominação entre os personagens apresenta um contundente subtexto sobre a própria formação moral e existencial de uma nação.

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