O que determina o padrão autoral do diretor norte-americano
James Gray não é um gênero específico a qual se vincule, mas sim a forma como modela
o gênero em questão de acordo com a sua linha estética. Foi assim no policial “Os
donos da noite” (2007) e no drama romântico “Os amantes” (2008). No drama de época
“Era uma vez em Nova York” (2013), Gray continua a exercitar a sua forma
particular de fazer cinema. A estrutura clássica da narrativa pode sugerir uma
produção acadêmica qualquer, mas tal impressão é enganadora. É nas nuances que o
filme se sobressai – a extraordinária direção de fotografia de tons marrons que
sugere uma atmosfera de pesadelo, a abordagem emocional sóbria, o delicado
trabalho de direção de atores que resulta em interpretações intensas e antológicas
de Joaquin Phoenix e Marion Cotillard. O resultado das escolhas artísticas de
Gray é uma obra de um sensorialismo elegante e sombrio, que se insinua no
imaginário como um perturbador conto moral, em que a difusa natureza das relações
de dominação entre os personagens apresenta um contundente subtexto sobre a própria
formação moral e existencial de uma nação.
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