quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância), de Alejandro González Iñarritu ***




O segundo título de “Birdman ou (A inesperada virtude da ignorância)” (2014) representa aquele que é o grande ponto fraco do filme em questão: a vontade de em vários momentos explicar para o espectador o sentido do seu subtexto. Nesse sentido, há um outro exemplo latente dessa tendência da obra do diretor mexicano Alejandro González Inarritu que é a personagem Sam (Emma Stone) – em momentos cruciais da trama, as falas dela querem sintetizar as razões existenciais dos conflitos e dilemas do protagonista Riggan Thomson (Michael Keaton), não deixando muita margem para interpretações de quem assiste ao filme. É claro que daria para dizer que Sam representa uma espécie de consciência não só de Riggan como da própria obra, mas tal consciência também retira parte considerável da inquietação e sensação de incômodo da atmosfera de delírio que é a tônica da produção. Se tais equívocos tornam a fluência narrativa de “Birdman” um tanto irregular, também não dá para dizer que o trabalho de Iñarritu seja um fracasso. A encenação proposta pelo cineasta, no seu registro misto de fantasia e realismo, traz uma desenvoltura vigorosa, em que o encadeamento alucinado de planos-sequência, combinado com a trilha sonora insólita a base de solos jazzísticos de bateria, dá aquela impressão vertiginosa de alguém que entra num vórtice de medo, tensão e esquisitas alucinações que sugerem uma iminente ruptura mental e criativa. O uso dos efeitos especiais é perfeitamente funcional com o espírito do filme, apresentando em determinadas seqüências um forte encanto imagético.

“Amores brutos” (200) continua sendo a obra mais expressiva de Iñarritu, mas as inquietações formais de “Birdman” mostram que o diretor se recuperou dos auto-indulgentes “21 gramas” (2003) e “Babel” (2006) e ainda é um nome que merece alguma consideração no panorama cinematográfico atual.

2 comentários:

Marcelo Castro Moraes disse...

É um filme corajoso e que merece o meu respeito

Ernesto Coutinho disse...

O filme chama atenção por ser rodado praticamente no mesmo plano sequencia o que é até certo ponto criativo, mas torna-se cansativo. Edward Norton foi excelente no filme, este ator nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é Beleza Oculta que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. A chave do sucesso é o bem que esta contada a historia e a trilha sonora, enfim, um dos meus preferidos.