O diretor australiano David Michôd conseguiu uma proeza notável
em “The Rover” (2014): combinar ficção científica futurista apocalíptica estilo
“Mad Max” com ambientação de faroeste moderno na linha “Rejeitados pelo diabo” (2005)
e “A proposta” (2005), sem soar forçado ou ridículo. Pelo contrário, pois o
filme tem uma fluência narrativa impressionante e um senso de encenação muito
afiado, além de Michôd saber extrair ao máximo as possibilidades visuais criativas
de seus cenários, tanto nas paisagens desoladas dos desertos australianos
quanto nas locações de casas e vilarejos em ruínas, criando um universo
particular, mas que também se apresenta próximo da nossa realidade de forma
perturbadora. Michôd concilia ainda com bastante naturalidade dois aspectos
latentes da produção. Por um lado, há um rigor na criação de seqüências valorizando
um ritmo mais reflexivo e atmosférico, enfatizando silêncios e gestuais
expressivos, principalmente em cenas com o protagonista Eric (Guy Pearce). Ao
mesmo tempo, o filme tem momentos em que a ação brutal se manifesta de forma
abrupta e impactante, com uma riqueza imagética exemplar no seu grafismo
violento e na desenvoltura da coreografia de tiroteios e porradaria, fazendo
lembrar os bons tempos das produções de aventura casca-grossa dos anos 80.
Coroando esse filmaço, não há como não registrar um fenomenal trabalho na direção
de atores, com belas composições dramática de Pearce, assustador na sua síntese
entre o lacônico e o atormentado, e Robert Pattinson, surpreendente como
bandido caipira apalermado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário