sexta-feira, fevereiro 06, 2015

The Rover, de David Michôd ****


O diretor australiano David Michôd conseguiu uma proeza notável em “The Rover” (2014): combinar ficção científica futurista apocalíptica estilo “Mad Max” com ambientação de faroeste moderno na linha “Rejeitados pelo diabo” (2005) e “A proposta” (2005), sem soar forçado ou ridículo. Pelo contrário, pois o filme tem uma fluência narrativa impressionante e um senso de encenação muito afiado, além de Michôd saber extrair ao máximo as possibilidades visuais criativas de seus cenários, tanto nas paisagens desoladas dos desertos australianos quanto nas locações de casas e vilarejos em ruínas, criando um universo particular, mas que também se apresenta próximo da nossa realidade de forma perturbadora. Michôd concilia ainda com bastante naturalidade dois aspectos latentes da produção. Por um lado, há um rigor na criação de seqüências valorizando um ritmo mais reflexivo e atmosférico, enfatizando silêncios e gestuais expressivos, principalmente em cenas com o protagonista Eric (Guy Pearce). Ao mesmo tempo, o filme tem momentos em que a ação brutal se manifesta de forma abrupta e impactante, com uma riqueza imagética exemplar no seu grafismo violento e na desenvoltura da coreografia de tiroteios e porradaria, fazendo lembrar os bons tempos das produções de aventura casca-grossa dos anos 80. Coroando esse filmaço, não há como não registrar um fenomenal trabalho na direção de atores, com belas composições dramática de Pearce, assustador na sua síntese entre o lacônico e o atormentado, e Robert Pattinson, surpreendente como bandido caipira apalermado.

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