quarta-feira, fevereiro 25, 2015

Sniper americano, de Clint Eastwood ****


Em uma das primeiras cenas de “Sniper americano” (2014), o protagonista Chris Kyle aparece em uma floresta ainda criança em sua primeira caçada ao lado do pai. Já mais para o final, o personagem, já adulto, surge na mesma floresta ensinando o seu filho a caçar. O contraponto entre tais momentos não é gratuito – esse recurso narrativo evidencia a sobriedade e sutileza de Clint Eastwood em sua abordagem de uma temática tão espinhosa e polêmica que é a história real do principal atirador de elite do exército norte-americano na última invasão ao Iraque (com maior enforque, é claro, no período em que Kyle participou do conflito). A narrativa parece se dividir em dois gêneros distintos: por um lado é um drama intimista ao expor os dilemas pessoais do protagonista diante da família e sociedade devido à natureza do seu trabalho; por outro, é um brutal filme de guerra, retratando com realismo e notável virtuosismo formal violentas e tensas sequências de ação. Um dos grandes méritos artísticos de Eastwood é saber conciliar com naturalidade e precisão essas faces diferentes do mesmo filme, fazendo com que a ligação entre elas seja intrínseca. Para isso, o diretor se vale de recursos estéticos eficientes e que fogem de obviedades banais, em que soluções fáceis como registro visual épico ou temas musicais grandiosos são dispensados em prol de um estilo conciso de filmar e editar. O resultado de tais opções tem um impacto mais perene e perturbador que a grande maioria do que se faz no gênero atualmente. A brutalidade sanguinolenta da guerra não é glorificada ou atenuada, tendo-se a impressão de que cada bala disparada traz uma conseqüência dolorosa. Isso tudo demonstra a grande maturidade artística de Eastwood, em que independente de escolher um lado ideológico, o que realmente parece importar é mostra a complexidade do contexto que envolve o protagonista. O moralista Kyle, em bela composição dramática de Bradley Cooper, é tomado por um patriotismo obtuso, que por vezes o deixa à beira do desumano. Ao mesmo tempo, entretanto, suas crenças pessoais são sinceras. Diante de tal dilema, a obra de Eastwood evita um julgamento moral definitivo sobre o personagem, formatando-se como um melancólico e contundente conto crepuscular sobre os tempos confusos que vivemos.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu sinto que este filme teve bons efeitos e boas performances , tenho visto que American Sniper é um daqueles filmes que, apesar de falar de patriotismo, não negligenciando os valores morais