Em alguns de seus filmes mais recentes como “Frankenweenie”
e “Sombras da noite”, ambos de 2012, Tim Burton foi acusado por boa parte do público
e crítica de estar se repetindo. Mas o que alguns podem entender como mera
reciclagem preguiçosa, na visão de outros, como este que vos escreve, pode se
tratar apenas de depuração de um estilo muito pessoal de fazer cinema. No caso
de Burton, sua habitual equação artística é ao mesmo tempo simples e indelével:
concepção visual entre o barroco e o onírico, narrativa de tom fabular,
elementos temáticos bizarros e senso de humor ácido em relação às
idiossincrasias da sociedade dita “normal”. O melhor de sua cinematografia
sempre girou em torno disso e sua identificação como cineasta autoral está na
conjunção de tais características. Assim, “Grandes olhos” (2014) pode até
representar algo “diferente” para aquilo com o qual se está acostumado em relação
ao diretor norte-americano. É uma cinebiografia vinculada a um estilo mais
realista de filmar, dirigida até com competência e razoável fluência. Em poucos
momentos, entretanto, dá para sentir algum toque mais pessoal e criativo de
Burton. A produção é rigorosamente previsível e acadêmica na sua narrativa e
estética. Enfim, a mudança no direcionamento do cineasta não implica em
criatividade ou ousadia da sua parte, mas numa simples adequação a ditames artísticos
derivativos. E nem dá para culpar o gênero no qual Burton se aventurou, pois
ele já havia tido resultados bem superiores com a obra-prima “Ed Wood” (1994),
no qual ele recriava fatos reais sob uma ótica singular e delirante.
Um comentário:
Um filme simples mas muito convidativo
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