Por toda a duração de “Foxcatcher” (2014) dá para perceber
com clareza os mecanismos de sua proposta artística: ao mesmo tempo que o
roteiro explicita as pretensas ambições cívicas e morais do milionário John Du
Pont (Steve Carell) em discursos e depoimentos pomposos, com direito a temas épicos
musicais de fundo, também há a contraposição com as reais atitudes mesquinhas e
psicóticas do mesmo personagem. Nesse sentido, dá até para dizer que as intenções
do diretor Bennett Miller são ousadas na desconstrução do patriotismo e
moralismo obtusos da sociedade norte-americana contemporânea. A abordagem
formal de “Foxcatcher”, entretanto, não consegue acompanhar tal ousadia. A mão
do cineasta pesa demais no ritmo narrativo da produção, fazendo com que sobre o
filme paire de forma constante uma atmosfera solene e desprovida de sutileza e
vivacidade. Falta na direção de Miller uma malícia, um senso de ironia, que
daria ao seu trabalho uma efetiva dimensão universal. Do jeito que ficou,
parece uma reciclagem um pouco mais sofisticada daqueles documentários
televisivos que recriam crimes escabrosos. A própria atuação afetada e
artificiosa de Carell é um reflexo de uma concepção que se leva a sério em
excesso. Nas poucas vezes que Vanessa Redgrave entra em cena, em uma composição
que é só de sedutoras nuances dramáticas, e nas vigorosas tomadas de combates
de luta olímpica “Foxcatcher” ganha alguma fluência em termos de encenação.
Tais momentos sugerem o que a obra de Miller poderia ter sido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário