quarta-feira, agosto 03, 2011

Daquele Instante em Diante, de Rogério Velloso ***1/2



Apesar de gostar muito da música de Itamar Assumpção (1949-2003), atribuir apenas à sua arte as qualidades de “Daquele Instante em Diante” (2011), documentário que foca a sua trajetória, seria impreciso. O grande mérito do diretor Rogério Velloso é conseguir ressaltar os aspectos mais fascinantes da vida do músico sem obscurecer o maior motivo pelo qual é conhecido e admirado: suas canções, discos, shows. E neste aspecto artístico o filme é bastante generoso, captando apresentações do cantor em várias fases de sua carreira, desde o seu surgimento no underground paulistano no início da década de 80 até os derradeiros registros ao vivo, quando ele já estava bem debilitado pelo câncer que o matou. No meio disso tudo, momentos antológicos como a sua desconcertante participação em um festival da Globo, além de depoimentos que muito esclarecem da sua visão cultural. A interação que se realiza da descrição de sua rotina doméstica e pessoal com o seu processo de composição, gravação e performance ao vivo mostra como tais pólos de sua vida estavam intrinsecamente ligados. Velloso consegue ainda evidenciar como o notório fato de Assumpção ser considerado um artista difícil na forma com que lidava com a sua arte na verdade revelava uma coerência conceitual e também uma forma de preservar intacta a integridade de sua obra. No mais, “Daquele Instante em Diante” serve também como uma expressiva radiografia de um lado mais obscuro, mas nem por isso menos interessante, da música brasileira, dando imagem e voz de uma geração de artistas (Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Vânia Bastos, entre outros) que não se acomodou diante dos cânones comerciais e da falta de exposição na mídia para gravar a ferro e fogo as suas particulares concepções cancioneiras.

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