O interesse pelos filmes recentes de Manoel de Oliveira não se atribui apenas à curiosidade pelo fato do diretor já ser centenário. “Singularidades de Uma Rapariga Loira” (2009) é prova evidente disso, mostrando o cineasta buscando uma linguagem muito particular, em que cinema e literatura se casam de forma insólita. Partindo de um conto de Eça de Queiroz, Oliveira acaba construindo um universo próprio, tão inusual que estabelece uma estranha atmosfera de atemporalidade. Se a contextualização da história se dá na atualidade, por outro lado a encenação revela um quê anti-naturalista, algo entre o teatral e o cinematográfico, com os costumes dos personagens evocando a moral da sociedade do século XIX (talvez na visão do cineasta as coisas não tenham mudado tanto assim). Fotografia e edição entram em conexão com a pintura – o filme dá a impressão, em alguns momentos, de uma pintura que adquire movimentos com sutileza. O fascinante é que no meio dessa conjunção de elementos diversos, com direito ainda a poesia de Fernando Pessoa e música clássica, percebe-se que o espírito de ironia ácida típico da prosa de Eça de Queiroz se preserva e também se expande dentro da concepção estética de Oliveira.
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