As primeiras imagens de “Melancolia” (2011) evocam bastante em termos estéticos a própria abertura de “O Anticristo” (2009), o filme anterior de Lars Von Trier – uma estranha conjunção de câmera lenta extrema com música clássica, gerando uma sensação sensorial que oscila entre o belo e o perturbador. Na obra mais recente, tal recurso tem o fim de servir como uma espécie de resumo do que está por vir, com o cineasta parecendo dizer para o público abandonar as esperanças, pois não haverá chance de redenção para os personagens.
Após tal prólogo, Lars Von Trier divide “Melancolia” em dois momentos distintos, mas que se relacionam de forma intrínseca. Na primeira metade, o filme envereda por um lado intimista, focalizando de forma crua a cerimônia e a festa de um casamento onde tudo entra em colapso pela manifestação do comportamento errático da noiva, Justine (Kirsten Dunst). Nesta narrativa, o diretor faz lembrar muito do cinema que praticava na época do Dogma 95 – fotografia entre o caseiro e o documental, iluminação beirando natural, cortes bruscos, elenco com atuações resvalando para o naturalismo. Essa encenação bruta e sem concessões acaba tendo um resultado sensorial devastador, estando em sintonia precisa com a temática contundente, em que o aspecto depressivo da personalidade de Justine vai ao encontro de uma ideologia fortemente misantrópica, fazendo com que valores da sociedade ocidental (família, trabalho, poder) sejam sistematicamente pisoteados.
Se o viés formal da primeira parte de “Melancolia” possui uma conotação realista, há momentos na mesma em que se prepara sutilmente para o gênero fantástico que toma conta da metade final da produção. Nesta última, Von Trier nos jogas para os últimos momentos do planeta Terra, preste a ser devastado pela colisão com o planeta Melancolia. É como se os sentimentos interiorizados de Justine derivados de sua depressão atingissem uma proporção de um verdadeiro cataclismo. A visão de apocalipse pela lente do diretor dinamarquês não tem nada de serena ou de enobrecimento – só sobra desespero e amarga resignação. A encenação do fim do mundo por parte de Von Trier dispensa a previsível preocupação com nuances detalhistas típicas de obras como “Impacto Profundo” (1998) ou “O Dia Depois do Amanhã” (2004). A destruição da Terra ganha a dimensão de um pesadelo vivo, que sufoca o espectador num redemoinho de imagens e sons exasperantes.
É claro que “Melancolia” traz dentro de si um jogo de simbologias que traz algo de óbvio e caricatural, principalmente se levarmos em conta que o próprio Lars Von Trier vem padecendo de depressão (ou seria um golpe de marketing?). Às vezes isso até se manifesta em situações e personagens maniqueístas e estereotipados. É inegável, entretanto, que tais concepções também geram um todo coerente e impactante, marca inexorável da cinematografia cada vez mais autoral e particular de Von Trier.
Após tal prólogo, Lars Von Trier divide “Melancolia” em dois momentos distintos, mas que se relacionam de forma intrínseca. Na primeira metade, o filme envereda por um lado intimista, focalizando de forma crua a cerimônia e a festa de um casamento onde tudo entra em colapso pela manifestação do comportamento errático da noiva, Justine (Kirsten Dunst). Nesta narrativa, o diretor faz lembrar muito do cinema que praticava na época do Dogma 95 – fotografia entre o caseiro e o documental, iluminação beirando natural, cortes bruscos, elenco com atuações resvalando para o naturalismo. Essa encenação bruta e sem concessões acaba tendo um resultado sensorial devastador, estando em sintonia precisa com a temática contundente, em que o aspecto depressivo da personalidade de Justine vai ao encontro de uma ideologia fortemente misantrópica, fazendo com que valores da sociedade ocidental (família, trabalho, poder) sejam sistematicamente pisoteados.
Se o viés formal da primeira parte de “Melancolia” possui uma conotação realista, há momentos na mesma em que se prepara sutilmente para o gênero fantástico que toma conta da metade final da produção. Nesta última, Von Trier nos jogas para os últimos momentos do planeta Terra, preste a ser devastado pela colisão com o planeta Melancolia. É como se os sentimentos interiorizados de Justine derivados de sua depressão atingissem uma proporção de um verdadeiro cataclismo. A visão de apocalipse pela lente do diretor dinamarquês não tem nada de serena ou de enobrecimento – só sobra desespero e amarga resignação. A encenação do fim do mundo por parte de Von Trier dispensa a previsível preocupação com nuances detalhistas típicas de obras como “Impacto Profundo” (1998) ou “O Dia Depois do Amanhã” (2004). A destruição da Terra ganha a dimensão de um pesadelo vivo, que sufoca o espectador num redemoinho de imagens e sons exasperantes.
É claro que “Melancolia” traz dentro de si um jogo de simbologias que traz algo de óbvio e caricatural, principalmente se levarmos em conta que o próprio Lars Von Trier vem padecendo de depressão (ou seria um golpe de marketing?). Às vezes isso até se manifesta em situações e personagens maniqueístas e estereotipados. É inegável, entretanto, que tais concepções também geram um todo coerente e impactante, marca inexorável da cinematografia cada vez mais autoral e particular de Von Trier.
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