quarta-feira, agosto 24, 2011

Diário de Uma Busca, de Flávia Castro ***



Um documentário que tem como temática a ditadura militar brasileira não é exatamente uma novidade, perante a profusão de obras do gênero que freqüentemente chegam às salas alternativas pelo país. Mesmo assim, “Diário de Uma Busca” (2010) acaba ganhando destaque por trazer uma perspectiva diferente para uma temática tão gasta aparentemente. Para começar, por mais que foque alguns momentos chaves dentro do histórico dos anos de chumbo, a perspectiva adotada pela diretora Flávia de Castro é bastante intimista, ainda mais porque ela é diretamente envolvida no assunto (seus pais foram militantes da luta armada e viveram vários anos no exílio junto aos filhos). Concentrando a narrativa na trajetória pessoal do seu pai, Celso Castro, morto em circunstâncias mal explicadas no ano de 1984, a cineasta enfatiza muito mais os dramas pessoais dos envolvidos na sua narrativa do que em algum discurso ou análise objetiva dos fatos em questão. É claro que o fato dela tem uma relação tão íntima com o objeto de sua obra faz com que o filme seja marcado por forte subjetividade, mas esse mesmo motivo dá uma carga emocional forte para “Diário de Uma Busca” que dificilmente deixa o espectador impassível diante do que assiste na tela. Ao expor com certa crueza a intimidade sua e de seus parentes, a diretora mostra uma densa trama de dificuldades e desilusões, trazendo um personagem real que teve como saldo final de anos de combate a um regime que abominava um misto de amargura e solidão. Quando Flávia lê para um conhecido do pai a última carta que ele lhe mandou, pouco antes de morrer, é como se toda uma gama de sentimentos represados explodisse de forma inclemente.

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