sexta-feira, agosto 05, 2011

Gainsbourg - O Homem Que Amava as Mulheres, de Joann Sfar ***1/2



O cineasta e quadrinista Joann Sfar utiliza em “Gainsbourg – O Homem Que Amava as Mulheres” (2010) uma abordagem de cinebiografia bastante semelhante àquela adotada por Martin Scorsese em “O Aviador” (2004): o que interessa não são exatamente os fatos reais da vida da figura focada, mas aquilo que está no nosso imaginário sobre o biografado. Assim, o que se assiste na tela sobre o genial cantor e compositor francês é um delírio estético, que procura relacionar a essência de suas canções com a trajetória pessoal de Serge Gainsbourg, como se tais elementos formassem um conjunto intrínseco. Por mais irreal que tal opção narrativa possa soar irreal, é inegável que a mesma também joga o espectador no meio daquilo que representa o primordial na obra de Gainsbourg – uma mescla sedutora de canção romântica, rock e pop animadinhos, letras sacanas e tudo mais o que der na veneta do autor (com direito até a versão reggae de “A Marselhesa”). A herança dos quadrinhos de Sfar cai como uma luva dentro de tais concepções estilizadas, não se limitando à hilária sequência de animação que ilustra os créditos de abertura, fazendo com que toques de cinema fantástico permeiem a trama. Assim, as criaturas grotescas que se manifestam como expressões distorcidas do ego de Gainsbourg adquirem um tom de naturalidade desconcertante, estando em perfeita coerência espiritual com o próprio processo criativo do cancioneiro “gansbourgiano”. No final das contas, talvez o grande mérito de Sfar está em privilegiar aquilo que efetivamente notabilizou Gainsbourg como um dos grandes artistas do século XX (apesar do apelativo título brasileiro para o filme): sua música.

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