A última coisa que se pode querer acusar o diretor português
Joaquim Sapinho em “Deste lado da ressurreição” (2011) é de querer facilitar as
coisas para o espectador. Seu filme tem um roteiro repleto de situações que
mais sugerem do que explicam. Os dilemas e traumas dos personagens nunca ficam
bem esclarecidos – só se pode saber que são graves a um ponto de gerarem várias
lamúrias e até autofragelações. Para complicar ainda mais, tudo isso é
temperado por uma atmosfera católica, onde culpa e uma improvável redenção
rondam a história. A abordagem formal de Sapinho se mostra em sintonia com o
seu hermetismo temático, pois a narrativa é vagarosa, abusando de longos e
fixos planos sequência e ações repetidas. A ausência de uma trilha sonora
musical acentua ainda mais essa aridez. Tais escolhas artísticas refletem influências
bem definidas do diretor que vem desde do neo-realismo italiano até obras
recentes do cinema iraniano. Essa estética exasperante de Sapinho parece querer
jogar quem assiste ao filme direto nos tormentos existenciais de suas criaturas
(ainda que por vezes mais estimule uma certa sensação de vazio e tédio). Por
outro lado, a produção tem um encanto visual cativante em alguns momentos. As
tomadas marinhas, por exemplo, trazem uma concepção bastante criativa: ao
retratar o protagonista (e surfista) Rafael
(Pedro Souza) no mar, o registro audiovisual traz crueza e dinâmica que evocam
uma espécie de tom documental naturalista, como se o personagem conseguisse
apenas atingir sua integridade existencial quando está na água surfando. E é
nesse limite entre a letargia e o insólito que “Deste lado da ressureição”
trafega. Ainda que aborreça em determinadas sequências, é inegável a sensação
de inquietação que passa.
Um comentário:
Boa dica
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