O diretor Luiz Bolognesi buscou soluções artísticas que
fogem de alguns dos padrões vigentes na animação “Uma história de amor e fúria”
(2012). O resultado final da obra mostra que ter arriscado acabou valendo à
pena. Na parte formal, o traço se afasta do realismo digital vigente no atual
panorama das animações, apostando mais num traço estilizado, evocando a escola
européia na linha “Heavy Metal” (revista e filme). O filme também apresenta uma
diversidade de abordagem visual admirável, indo desde um grafismo de tons
suaves e nostálgicos, que remete a um universo pictórico clássico, passando por
sombrias matizes cinzentas (quando a trama retrata os anos de chumbo da
ditadura) e chegando num estilo repleto de cores, luzes e arquiteturas excêntricas,
ao retratar um futuro distópico. Apesar de tal variação estética, Bolognesi
mantém unidade e coerência em cada um desses estilos. Esse formalismo reveste
com sutileza as arestas do roteiro – nesse último quesito, “Uma história de
amor e fúria” se apresenta ainda mais ousado, ao não esconder uma visão histórica
e social bastante pessoal e ideologizada, beirando o panfletarismo. Ingênua ou
não, o que importa é que tal visão acaba criando forte empatia, estabelecendo
uma linha de opressores (portugueses colonizadores, império, ditadura militar e
corporações) que configuram como um grande mal a ser combatido (mesmo que
detenham os plenos poderes institucionais). Sobra até para o Duque de Caxias,
retratado como um malévolo comandante a massacrar rebeldes bem intencionados.
Em tempos que a mídia puxa o saco de um papa latino-americano, é notável que
uma produção como essa consiga aliar uma narrativa de aventura envolvente com
um lado bastante reflexivo sobre os valores distorcidos e as mazelas da história
brasileira.
Um comentário:
Pretendo ver semana que vem
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