quarta-feira, junho 05, 2013

Depois de maio, de Olivier Assayas ****


A trilha sonora de “Depois de maio” (2012) é bastante emblemática em relação à própria abordagem temática e estética do filme. Entre tais temas melódicos, prevalece um cancioneiro roqueiro situado entre final dos anos 60 e início dos 70, com enfoque maior para um amálgama de músicas que se situam entre o folk pastoril, o psicodélico e o progressivo. Pois o que se vê na tela é justamente a tradução visual dessa ambiência sonora. Olivier Assayas concebe uma narrativa que se situa num universo quase à parte – as situações de conflitos típicos da época (início dos anos 70, na ressaca do célebre maio de 1968) e os dilemas dos personagens são encenados com uma leveza desconcertante (a trágica morte de Maria, por exemplo, beira o poético). O roteiro tem tintas autobiográficas inspiradas na vida de Assayas, mas há uma ambiguidade intrigante na forma com que a trama se desenrola, pois por vezes o filme beira o fetichismo através de um registro audiovisual que privilegia a idealização, cuja direção de fotografia valoriza o tipo físico jovem e belo de seu elenco principal e também rústicas paisagens interioranas, ao mesmo tempo que a história traz um forte conceito de desilusão com certos ideais políticos e comportamentais. Assim, o olhar de Assayas é marcado pela complexidade e pela ausência de maniqueísmos. A atmosfera nostálgica de uma época em que jovens se metiam efetivamente em conflitos políticos e sociais, buscavam alternativas de vida no campo das relações amorosas e tinham uma vivência mais intensa com atividades culturais se choca com algumas das amargas conseqüências dessa vivência. E é na força dessa dualidade de “Depois de maio” que reside o seu forte impacto sensorial, em que o imaginário do espectador é jogado para dentro do dissoluto espírito de uma época.

Um comentário:

Marcelo Castro Moraes disse...

Ainda não tive o privilégio de ver esse filme.