As coisas no cinema de Philippe Garrel parecem seguir um
ritmo próprio, como se fizessem parte de um universo particular do cineasta. “O
nascimento do amor” (1993) é obra sintomática desse direcionamento artístico. A
trama se desenvolve num tempo indefinido, sendo que a estética concebida por
Garrel acentua ainda mais essa ideia de atemporalidade. Num primeiro momento, o
formalismo da produção alude aos anos áureos da Nouvelle Vague – fotografia em
preto e branco, além da edição e narrativa repletas de elipses. Na realidade,
Garrel é contemporâneo de Godard e Truffaut, sendo que começou a dar seus
primeiros passos no cinema justamente durante o célebre movimento cinematográfico
francês. Até mesmo o roteiro traz em si a noção “fora do tempo e do espaço”; os
protagonistas Paul (Lou Castel) e Marcus
(Jean-Pierre Leaud, em personagem que se mostra em sintonia com o antológico
Antoine Doinel) são homens maduros, mas apresentam comportamentos oscilantes e inconseqüentes.
Garrel faz a crônica de uma eterna juventude, da imaturidade inconstante. Suas
criaturas vagam pela vida num cruzamento entre o hedonismo e a melancolia. E no
meio dessa abordagem nostálgica e amarga e das referências mencionadas, fica
uma obra de encanto hipnótico e envolvente.
Um comentário:
Otima pedida
Postar um comentário